sábado, junho 27, 2009

Compreender a Globalização

Avaliar este fenómeno na sua historicidade e na sua contemporaniedade.

A globalização, de que tanto se fala, é muito abstracta e pouco concreta, logo é difícil criar uma definição oficial. No entanto alguns países já  a possuem, por exemplo Espanha: «Tendência dos mercados e das empresas a alargarem-se, alcançando uma dimensão mundial que ultrapassa as fronteiras nacionais»; definição que poderá ser (a priori) excessivamente e primordialmente económica (esta preferência económica para a caracterização da globalização não é unicamente «espanhola», ocorre ,também, noutros países europeus). Pois, definir globalização apenas do ponto de vista económico, pode criar uma definição incorrecta e incompleta. A justificação deste ponto de vista encontramo-la na posição defendida pelo  historiador francês Fernand Braudel, que escreve numa das suas obras (da época de sessenta): «Eleger este observatório (o económico) é privilegiar de antemão uma forma de explicação unilateral e perigosa».

O significado completo e exacto provavelmente ainda não foi atingido, mas podemos ficar com a definição de Guillermo de la Dehesa (2000) que, à primeira vista, parece abranger um vasto grupo de factores condicionadores da globalização: «processo dinâmico de crescente liberdade e integração mundial dos mercados de trabalho, bens, serviços, tecnologia e capitais (...) este processo não é novo, vem-se desenvolvendo paulatinamente e demorará muito tempo a completar-se, no caso de o permitirem(...)».

Mas como foi referido no significado proferido por Guillermo de la Dehesa (e em muitas outras articulações sobre o assunto) a globalização resulta de uma lenta evolução. Assim podemos afirmar que a globalização não é um fenómeno recente.

A globalização encontra-se presente em muitos acontecimentos e períodos da História. Que outra coisa não é, por exemplo, a colonização do Brasil?

Na verdade, esta teoria da «antiguidade da globalização» é exposta por vários pensadores contemporâneos, entre eles encontra-se Joaquín Estefanía (2002), que nos diz que a história da Humanidade é a história da globalização, em que os homens se aproximam uns dos outros através da sua economia, da sua cultura, dos seus costumes. Este autor  refere-se ainda ao comércio fenício no Mediterrâneo e ao Império Romano, apresentando estes factos como exemplos de uma globalização, (ainda que a expressão «globalização» não existisse na época).

Marx e Engels, os criadores do Marxismo, com a publicação do Manifesto do Partido Comunista (1848), descreveram com precisão o que depois se tornou a «globalização», estes breves excertos exemplificam as referidas ideias: «o descobrimento da América e da circum-navegação de África criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias Orientais e da China (...) deram ao comércio, à navegação um auge desconhecido (...), os mercados continuaram a crescer (...). A necessidade de dar cada vez maior e mais extensa saída aos produtos lança a burguesia de uma ponta á outra do planeta (...). Os produtos das diferentes nações transformaram-se em património comum(...)».

Na  ultima metade do séc. XIX, a partir de 1870, houve um avanço de integração mundial dos capitais, de mercadorias e de trabalho que regrediu, consequentemente, com as catástrofes do séc. XX, iniciadas em 1914, as guerras mundiais (e outros conflitos resultantes). Mas, após estes conflitos terminarem, (re)iniciou-se um outro período em que a terminologia «globalização» e a sua manifestação são conscientes, este processo cumpre aproximadamente 55 anos e assenta sobre  bases mais sólidas que o anterior avanço.

É neste último período, o actual, em que se criou a terminologia «globalização», foi Theodore Levitt (1983) que fez referência á globalização dos mercados. Para este autor assistia-se à criação de um mercado global em que os produtos se vendiam uniformemente por todo o planeta, em vez de permanecer um mercado em que os produtos eram inicialmente comercializados para países desenvolvidos e quando se tornavam obsoletos as vendas eram direccionadas para os países em vias de desenvolvimento, com um diferente desvelo.

Michael Porter (1990) utilizou posteriormente o termo para diferenciar uma empresa multinacional de uma global. A companhia multinacional é aquela que produz num determinado número de países e que não têm ambições de unir as operações dum ponto de vista estratégico, enquanto que a empresa global provoca uma estratégia mundial em que as diferentes sucursais nacionais encontram-se ligadas e totalmente coordenadas entre si, fazendo com que o conjunto tenha um maior valor que a soma das suas partes.

Kenichi Ohmae (1990), à primeira vista, parece ter-se apoiado na teoria de Porter e afirmar que a empresa global é aquela que perde identidade nacional e que opera como uma entidade sem pátria e a uma escala mundial

Assim conclui-se que as empresas multinacionais e as empresas globais são uns dos agentes mais importantes na criação da globalização, pelo menos a nível económico e comercial. Neste ponto de vista económico-comercial a globalização é algo positivo pois em muitos casos anima-nos como consumidores.

Mas do «miradouro político», ou seja nós como cidadãos, a globalização é vista como algo negativo e prejudicial, pois afinal quem é que «votou» na globalização? Ninguém, é claro, pois a globalização é uma consequência indirecta da aproximação económica e política de nações. E independentemente dos benefícios do processo de “mundialização”, existe também um afastamento dos cidadãos em respeito ás principais decisões que se tomam por eles, o que demonstra a fragilidade da democracia.

Segundo Ulrich Beck (2000), outro perigo político conseguinte do facto anteriormente referido, é a formação de uma política de «autoritarismo democrático», que se comporta de forma flexível para o exterior, (frente aos mercados mundiais) e de modo autoritário perante o interior (cidadãos); criando-se um «clima liberalista» e consequentemente um clima de terrorismo. Mas estes conflitos podem-se combater com a preocupação dos cidadãos e a, consequente, necessidade de novos códigos contra os abusos de mercado, o que significa uma política proveitosa e a formação de um estado (democrático) firme e com poder. Enquanto que o «factor» tecnologia ampara a globalização, bom exemplo para tal acontecimento é a situação caricata de uma chamada de Nova York a Londres custar 300 dólares em 1930, enquanto que hoje não atinge o valor de um dólar. Tudo isto faz com que as fronteiras naturais do tempo e do espaço entre os países sejam cada vez menores, portanto, o envio de bens, serviços, pessoas, capitais e informação é cada vez mais baixo, o que facilita a internacionalização e  a interdependência das economias. Ou seja, o que faz com que o mundo seja cada vez «mais pequeno»; falando ainda de uma maneira mais metafórica é a formação da «Aldeia Global».

Bibliografia:

Beck, Ulrich: Qué es la globalización? Paidós, 1998. - Un nuevo mundo feliz: la precariedad del trabajo en la globalización. Paidós, 2000.

Dehesa, Guillermo de la: Comprender la globalización. Alianza Editorial, 2000.

Estefanía, Joaquin: Hij@, qué es la globalización? Aguilar, 2002.

Marx, Karl e Engels, Friedrich: Manifesto do Partido Comunista, Silvio Berlusconi Ed., 1998.

Ohamae, Kenechi, Bordeless World: Power and strategy in the interlinked economy. Nova York, Harper Business, 1990. (Base de dados da Biblioteca de Extremadura/ Badajoz)

Porter, Michael, The competitive advantage of Nations, Nova York, The Free Press, 1990. (Base de dados da Biblioteca de Extremadura/ Badajoz)

Programa das Nações Unidas: Informação sobre o desenvolvimento humano (publicação anual).

João Martins

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